quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Caixa de passado

Oi mãe

Tenho novidades pra você. Uma boa e uma ruim, como sempre - porém muito pertinentes pra esse momento.
Na terça percebi que estou crescendo. Fiquei abismada. Consegui me lembrar de escovar os dentes antes de começar a me maquiar. Mesmo que as roupas estejam todas espalhadas pelo chão, já que o armário esta sempre cheio - e bagunçado (uau, que coincidência).
Mas ainda vejo no chão a caixa que você me mandou fazer. Tem dentro dela uma foto ou outra que imprimi ao longo dos quatro anos, cartas com rimas e juras de eternidade, uma baqueta, um filme...você sabe o que é tudo isso e o que significa.
Sugeri a alguns amigos que guardassem pra mim, já que é bem obvio que não conseguiria me desfazer pra sempre. Sugeri que arrumassem um lugar na despensa pra eu não poder ver - ledo engano: a dispensa poderia muito bem se tornar meu novo quarto. Ninguém aceitou. Também não aceitaria um estranho morando com panos de chão e produtos de limpeza.
Guardar história em uma caixa. Que ato de coragem.
Os dentes do ciso no potinho de sabe-se-la-o-que ainda ficaram na prateleira. Viraram decoração ou uma chance de clonar o passado.
Esses dias o chamei pra subir, num ato impensado de desespero sexual, admito. Não me disponho a reviver toda a bagunça e acumular mais coisas pra caixa do passado, mas uma transa inconsequente viria a calhar.
Que alegria o convite ser recusado.

Pois é, mãe, estou crescendo. E volto no tempo sempre que possível.

Mas preciso admitir que ainda sofro pra tirar a maquiagem antes de dormir.