segunda-feira, 7 de novembro de 2016

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O homem que você é hoje, não daria conta da mulher que me tornei. Hoje sou furacão, tempestade que arrasta carros e derruba árvores. Hoje sou mais minha do que jamais havia sido. Hoje você não dá conta.
A cerca de arames que você usou para delimitar quem eu era, caiu por terra. Hoje eu sou o arame. Sou eu quem te machuca com as pontas afiadas. Hoje você não aguenta.

Quem diria, não é mesmo?!

Eu diria.


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Caixa de passado

Oi mãe

Tenho novidades pra você. Uma boa e uma ruim, como sempre - porém muito pertinentes pra esse momento.
Na terça percebi que estou crescendo. Fiquei abismada. Consegui me lembrar de escovar os dentes antes de começar a me maquiar. Mesmo que as roupas estejam todas espalhadas pelo chão, já que o armário esta sempre cheio - e bagunçado (uau, que coincidência).
Mas ainda vejo no chão a caixa que você me mandou fazer. Tem dentro dela uma foto ou outra que imprimi ao longo dos quatro anos, cartas com rimas e juras de eternidade, uma baqueta, um filme...você sabe o que é tudo isso e o que significa.
Sugeri a alguns amigos que guardassem pra mim, já que é bem obvio que não conseguiria me desfazer pra sempre. Sugeri que arrumassem um lugar na despensa pra eu não poder ver - ledo engano: a dispensa poderia muito bem se tornar meu novo quarto. Ninguém aceitou. Também não aceitaria um estranho morando com panos de chão e produtos de limpeza.
Guardar história em uma caixa. Que ato de coragem.
Os dentes do ciso no potinho de sabe-se-la-o-que ainda ficaram na prateleira. Viraram decoração ou uma chance de clonar o passado.
Esses dias o chamei pra subir, num ato impensado de desespero sexual, admito. Não me disponho a reviver toda a bagunça e acumular mais coisas pra caixa do passado, mas uma transa inconsequente viria a calhar.
Que alegria o convite ser recusado.

Pois é, mãe, estou crescendo. E volto no tempo sempre que possível.

Mas preciso admitir que ainda sofro pra tirar a maquiagem antes de dormir.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

vinte um seis quatorze

Só conseguia ver, longe, uma pequena faísca de qualquer falta que eu tenho sentido, há algumas (dolorosas) semanas. Não era impressão minha. Não podia errar dessa vez.
Não errei.
Na mistura de substâncias e pessoa ilegais, música alta e sabe-se lá quantos copos gigantes de chopp, senti medo. Medo porque já perdi, ou por estar tão próxima de perder, o equilíbrio tantas vezes. Nessa mistura de barulho e gente e álcool, misturo meus pensamentos e sentimentos. Mas o que fazer se eu nunca sei o que estou sentindo?
Num desses nossos dias, sentada no banco de trás (será que algum dia o banco da frente seria meu?), pensei sobre como esquecia da vida e me refazia do início. Era como se todas as páginas amassadas e molhadas de lágrima fossem arrancadas de vez, da raiz. Lembro muito bem de cada bronca que levei ao longo de não sei quantos meses. Você se preocupava, de fato. Todo mundo sabia. Quase todo mundo, na verdade. Quantos meses?
Lá de longe me esforcei pra entrar em você, poder ver com precisão onde me localizo nesse bagunça toda que ficou pra trás. E onde eu me localizaria a não ser em nossos desejos reprimidos? Onde eu me localizaria a não ser no banco de trás? E eu consegui entrar. Assim como você entrou. E ficou. Em nenhum outro lugar a não ser em nossos desejos reprimidos.
Recíproca por recíproca, ainda são desejos reprimidos. Tesão reprimido. "Eu não sei o que eu sinto...", disse, com as mãos no bolso, tentando tirar as bolinhas que se formaram no tecido. "Você sente o que eu sinto!".

Não me abraça mais, por favor.
Mudar o assunto com segundos de antecedência não pode se tornar prática diária.

"Solidão é um método maluco de saber quem está dentro de você"