segunda-feira, 18 de agosto de 2014

vinte um seis quatorze

Só conseguia ver, longe, uma pequena faísca de qualquer falta que eu tenho sentido, há algumas (dolorosas) semanas. Não era impressão minha. Não podia errar dessa vez.
Não errei.
Na mistura de substâncias e pessoa ilegais, música alta e sabe-se lá quantos copos gigantes de chopp, senti medo. Medo porque já perdi, ou por estar tão próxima de perder, o equilíbrio tantas vezes. Nessa mistura de barulho e gente e álcool, misturo meus pensamentos e sentimentos. Mas o que fazer se eu nunca sei o que estou sentindo?
Num desses nossos dias, sentada no banco de trás (será que algum dia o banco da frente seria meu?), pensei sobre como esquecia da vida e me refazia do início. Era como se todas as páginas amassadas e molhadas de lágrima fossem arrancadas de vez, da raiz. Lembro muito bem de cada bronca que levei ao longo de não sei quantos meses. Você se preocupava, de fato. Todo mundo sabia. Quase todo mundo, na verdade. Quantos meses?
Lá de longe me esforcei pra entrar em você, poder ver com precisão onde me localizo nesse bagunça toda que ficou pra trás. E onde eu me localizaria a não ser em nossos desejos reprimidos? Onde eu me localizaria a não ser no banco de trás? E eu consegui entrar. Assim como você entrou. E ficou. Em nenhum outro lugar a não ser em nossos desejos reprimidos.
Recíproca por recíproca, ainda são desejos reprimidos. Tesão reprimido. "Eu não sei o que eu sinto...", disse, com as mãos no bolso, tentando tirar as bolinhas que se formaram no tecido. "Você sente o que eu sinto!".

Não me abraça mais, por favor.
Mudar o assunto com segundos de antecedência não pode se tornar prática diária.

"Solidão é um método maluco de saber quem está dentro de você"