segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Próxima parada: Passado

Ao vê-lo subir no ônibus percebo que meu roteiro se desfaz. Imploro ao motorista para que não permita mais a sua (perturbadora) entrada. Mas motorista é bixo teimoso (aliás, me lembro de ter lido na porta: 'Proibido falar com o motorista') e ignorou o apelo dessa humilde passageira.

-Mas veja se pode algo assim! Ele é só mais um passageiro! Acomode-se menina e escolha uma trilha sonora para a oscilação do ônibus, já que a estrada está ruim.

Nem a melhor das trilhas afastaria de meus pensamentos sua presença. Nem que Marcelo Camelo assobiasse calmamente em meus ouvidos as melhores notas acompanhadas do suave balançar das folhas das árvores, nem se todos os pássaros se organizassem numa orquestra de diferentes sons...Nada faria com que sua respiração se afastasse dos meus ouvidos. Me lembrava de cada palavra dita, não dita, bem dita, mal dita! Estavam todas lá...E eu nem sequer me esforcei para silenciar aquela confusão de sons.
Olhava, angustiada, pela janela esperando que seu destino chegasse de vez! A viagem se estendia a cada novo quilômetro e quando me dei conta já havia circulado os quatro cantos do mundo, em poucas horas.
Já não havia trilha sonora que me acalmasse e meu desespero assumira proporções absurdas, não cabendo mais nos olhos, transbordando em lágrimas. Lágrimas que inundaram todo o ônibus e você sequer se molhou! Que mal teria me oferecer um lenço, um abraço ou talvez uma palavra boa?

-PARE O ÔNIBUS!

Tomo aqui a melhor das decisões: quem desce do ônibus sou eu! Nem que isso me renda alguns quilômetros andados à pé, na companhia apenas da Orquestra dos Pássaros. Nada mais me faz tão bem...