Cenário: palco vazio de um velho teatro
Personagens: principais? Dois; figurantes? Vários.
Título: Boa Noite
Você sobe no palco e desfila por lá como se o mesmo lhe pertencesse. Como se lhe fosse um presente dado, algo próprio. Caminha com calma como se pisasse em nuvens, distribui passadas leves como se andasse em cacos.
Uma chuva leve se aproxima, trazendo consigo ventos de primavera, aroma suave de flores que estão por abrir, aguardando seu toque. Aguardando ansiosas por padecerem num belo vaso em meio a minha sala de estar, próxima ao bloco de anotações onde seu nome aparece milhões de vezes, hora rabiscado, hora enfeitado de corações.
Você ignora o aviso e acende um cigarro, o primeiro de vários que viriam com o tiquetaquear das horas, assoprando em mim sua fumaça, sua essência. Cuspindo em minha cara seu cheiro, seu gosto. Pois bem, faça como quer, o protagonista foi eleito por unanimidade. Um voto meu contra nenhum outro. E assim, no um a zero, você estrela novamente e direciona todos os holofotes para seu rosto. Maldito narcisismo. Sabia que devia ter considerado novas possibilidades sem escolher de imediato o ator principal da minha peça.
Sua boca úmida diz, como se cantasse, para que eu suba ao palco e atue contigo. Inocente que sou...Se pensasse mais...Vou, mas hesito em me aproximar de sua fumaça.
As luzes dançam por seu corpo e sinto dentro de mim algo que pulsa. Não penso muito e já estou à sua volta, como uma escrava: ''sim meu amo!''.
Talvez se permanecesse na platéia veria um novo desfecho. Te ver suplicando por minha presença seria um agrado tamanho. Sinto meus olhos vidrarem...Sinto...
continua...